Na noite da última segunda-feira, foi aprovado o Projeto de Lei nº 087/12, de autoria do vereador Ivan Teixeira (SDD), ao qual, "Denomina de "Celso Gonçalves Fonseca", o Parque de Voo Livre que especifica e dá outras providências".
Celso Gonçalves Fonseca nasceu em 06 de novembro de 1944, em Itaqueri da Serra/SP, filho de Manoel de Moral Gonçalves e Leontina Fonseca Gonçalves; teve quatro irmãos: Diva, Renato, Ivone e Loraci. Foi criado junto de seus irmãos na Fazenda Palmeiras, de seu pai, no alto da Serra do Itaqueri, sempre trabalhando junto à família na lavoura.
Seus sonhos com as alturas começaram cedo: logo quando completou idade para o alistamento militar, o fez de livre e espontânea vontade - não compulsoriamente, juntando-se ao Regimento da Infantaria Aero terrestre na cidade do Rio de Janeiro/RJ, aos conhecidos Paraquedistas do Exército Brasileiro, servindo junto a essa corporação no ano de 1966.
Em seguida casou-se com Maria Aparecida Furlani Gonçalves em 05/07/70, com quem teve duas filhas, Alexandra Gonçalves Furlani em 15/06/71 e Samantha Gonçalves Furlani em 04/01/74.
Continuou seu serviço na lavoura, mas os sonhos nunca foram esquecidos. As horas sempre chegam, e no momento certo, em outra situação, surgiu à oportunidade de tentar de novo.
Conheceu a asa delta e descobriu novamente uma forma de sentir-se livre feito um pássaro.
A paixão por voar o fez tirar os pés do chão de todas as formas que pode: balão (na época ficou muito amigo do Sr. Truffi), planador, trike, ultraleve, teco-teco. Infelizmente, nunca pode tirar o brevê, pois um problema de visão o impedia.
Nos anos em que a asa Delta foi um grande sucesso em São Pedro. Foram vários anos conhecendo pessoas maravilhosas, interessantes, cheias de histórias, subindo e descendo a serra, comendo poeira, sentindo o cheiro de mato, a brisa mansa e amiga.
A paixão pelos ares foi transmitida às filhas, que só mantiveram os pés no chão em obediência à mãe, que nunca lhes permitiu as aventuras do pai.
Sr. Celso sempre foi extremamente inteligente, daqueles que quando desejava algo, se esforçava ao máximo até aprender, foi mais ou menos assim também com a asa delta. Claro que ele teve um professor, o Sr. Chico Chiclete, com quem teve aulas em Baraqueçaba/SP, mas o resto foi na cara e na coragem, como autodidata.
Na época não havia muito isso no Brasil, o que dirá no interior. Não é a toa que a asa ficava exposta na praça, com as bênçãos do nosso saudoso Juciê. Isso nos idos de 1976. Uma asa que só servia pra treinamento, pra "morrinhos".
A rampa de madeira da rampa leste, onde hoje se constrói o Parque, ele construiu sozinho, com madeiras, tábuas e palanques que trouxe da fazenda onde já havia vivido e, mais uma vez, tudo com muito esforço. Sentava-se à mesa da cozinha, desenhava, media e fazia, inclusive, na época tudo foi registrado por meio de fotografias, e graças à rampa montada, foi organizado em 1980 um campeonato, ao qual, muitas pessoas de outras cidades acabaram vindo para São Pedro para participar. Houve até um recorde de permanência no ar na época, pelo voador Roberto Cantusio.
Com o tempo Sr. Celso, acabou se afastando da asa, vendeu devido ser um esporte caro, e para quem tinha bastante tempo vago. Desde então fez de tudo um pouco na vida. Até uma sorveteria chegou a abrir com um grande amigo. O voo nunca deixou sua vida ou ele nunca deixou o voo, era carinhosamente conhecido como "Celsão Voador".
Mais recentemente, prestou concursos públicos, seu último emprego foi como Escrevente Judiciário em São Paulo, depois se transferiu para São Pedro/SP. Mas o sonho nunca se aquietou. Se alguma limitação já não lhe permitia carregar o peso da asa, já estava mais comodista, agora montava, devagar, aos poucos, um trike. O Trike estava praticamente pronto, faltando apenas a asa, mas, infelizmente, não houve tempo.
Aventurou-se nos ares, desafiou a gravidade, não temeu a altura, foi traído pelo destino e faleceu em 09/05/2001, em consequência de complicações por um edema cerebral causado por uma queda de sua própria altura em casa, ou seja, caiu dentro de casa, bateu a cabeça, teve um edema, e faleceu em consequência dele.
Mas enquanto viveu, viveu intensamente, viveu seu sonho, foi feliz, amou os seus, e como está grafado, de seu próprio punho, na contracapa do álbum que guarda as fotos de suas aventuras com a asa delta:
"Fiz morada nos ventos... meu silêncio conhece a alegria das alturas...".
"mais vale um dia como águia do que a vida toda como cordeiro."
Agora Celso Gonçalves Fonseca segue em paz, alçando voos mais altos...
São Pedro